30/08/2024

Ex-aluna da FGV EMAp conquista vaga de doutorado na Universidade da Pensilvânia

Trajetória de Vitoria Guardieiro mostra que talento e dedicação levam a conquistas notáveis

O símbolo do infinito, representado por um oito deitado, ganhou um significado especial para Vitoria Guardieiro quando, em 2012, ela passou para a segunda fase da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Seu pai, sempre um grande apoiador dos seus estudos, presenteou-a com um brinco com esse formato, que representa as possibilidades ilimitadas diante dela. Esse gesto simples, mas repleto de significado, hoje simboliza perfeitamente a trajetória que se desenrolou em sua vida: uma carreira que, como o próprio infinito, não conhece limites.

A pesquisadora, que completou sua graduação em Matemática Aplicada e o mestrado na Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp), iniciou no fim de agosto o doutorado na Universidade da Pensilvânia (UPenn). A UPenn é uma das instituições integrantes da Ivy League, o destacado grupo de oito universidades de elite dos Estados Unidos.

“Estou empolgada! Além do programa se  alinhar perfeitamente com meus interesses e objetivos de pesquisa, meus colegas foram muito amigáveis. Acredito que será um ambiente muito estimulante”, afirmou Vitoria.

Vitoria em frente ao prédio da Universidade da Pensilvânia, onde fará o doutorado | Foto: Arquivo pessoal

Vitoria em frente ao prédio da Universidade da Pensilvânia, onde fará o doutorado | Foto: Arquivo pessoal

Trajetória

Nascida em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a estudante revelou uma aptidão precoce para a matemática. Ao lado do primo João Paulo, desenvolveu um entusiasmo genuíno pelos estudos. Durante sua jornada na Escola Estadual Messias Pedreiro, ele conquistou seis medalhas na OBMEP: três de bronze, duas de prata e uma de ouro. Essas conquistas foram determinantes para sua escolha em seguir na área e atraíram a atenção do Centro para o Desenvolvimento da Matemática e Ciências (CDMC). Em 2017, o CDMC estava desenvolvendo um programa para identificar jovens talentos de escolas públicas, oferecendo a eles a oportunidade de ingressar nos cursos de graduação e pós-graduação da FGV, no Rio de Janeiro. “Quando recebi o convite para prestar o vestibular e soube que poderia ter a chance de ingressar na FGV EMAp, voltei para casa e compartilhei a notícia com meu pai. Ele ficou entusiasmado e me incentivou a aproveitar essa oportunidade”, relata.

Apesar de não terem ensino superior, os pais de Vitoria sempre valorizaram muito a educação, dizendo que este era o melhor caminho para ter sucesso na vida. E, apesar do receio de ter a filha longe de casa, eles deram total apoio quando ela passou com louvor no vestibular e recebeu a proposta para estudar na Escola. A saudade da família e os desafios da grande mudança foram superados com resiliência e visitas programadas a cada três meses. Com o passar do tempo, ela foi ajustando as expectativas e adaptando-se ao rigor acadêmico da instituição. Durante toda a graduação, ela pôde estudar com bolsa integral, recebeu o suporte financeiro e de moradia, além do apoio emocional, através da coordenadora Cássia Pessanha.

"Ela foi fundamental quando eu cheguei no Rio de Janeiro e me ajudou a me adaptar à nova rotina. Além de me orientar com relação à bolsa, sempre esteve ao meu lado, oferecendo suporte nas questões burocráticas. Até hoje, posso contar com ela para me ajudar a resolver qualquer problema, o que facilitou muito a minha vida e me permitiu focar no meu desenvolvimento acadêmico e profissional", enfatiza.

Em sua experiência como mulher em um setor no qual a representação feminina ainda é limitada, Vitoria acabou desenvolvendo um profundo interesse em investigar as questões éticas e os desafios de viés e discriminação que esses modelos podem enfrentar. Seu trabalho de conclusão de curso concentrou-se em uma área conhecida como fairness (justiça) e ela explorou técnicas para assegurar que os modelos de aprendizado de máquina não sejam discriminatórios, levando em consideração fatores como raça, gênero e idade. 

“Propus uma nova abordagem para o treinamento desses modelos, busquei minimizar possíveis vieses e garantir uma maior justiça nas decisões automatizadas”, explicou.

O artigo resultante do TCC, intitulado “Enforcing Fairness Using Ensemble of Diverse Pareto-Optimal Models” foi publicado pela conceituada editora acadêmica Springer.

Vitoria durante a defesa de sua dissertação em 2023 | Foto: Arquivo pessoal

Vitoria durante a defesa de sua dissertação em 2023 | Foto: Arquivo pessoal

Durante o mestrado, Vitoria continuou explorando a área de machine learning e a ética associada. Seu segundo artigo científico abordou a questão da avaliação e dos algoritmos de pontuação, com um foco específico no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

“Investiguei se o processo de atribuição de notas poderia ser discriminatório e analisei a teoria de resposta ao item, que exige uniformidade na dificuldade das questões entre grupos. No entanto, descobri que, em algumas provas de 2019, especialmente em inglês e, em menor grau, em espanhol, havia diferenças significativas nos índices de acerto entre grupos. Também encontrei variações notáveis na probabilidade de acerto entre grupos de renda, raça e gênero”, esclareceu.

De acordo com a pesquisadora, o artigo intitulado "Analyzing the Equity of the Brazilian National High School Exam by Validating the Item Response Theory’s Invariance", apresentado na "15th International Conference on Educational Data Mining", destacou o impacto da aplicação dos algoritmos na equidade da avaliação educacional.

Vitoria teve ainda a oportunidade de realizar um intercâmbio na Universidade de Nova York, onde trabalhou no laboratório VIDA (Visualization Imaging and Data Analytics Research Center). “Foi uma experiência enriquecedora, pois meus interesses em pesquisa se alinharam ao trabalho desenvolvido no laboratório VIDA”, disse. 

Após receber feedback das universidades para doutorado e seguir o conselho de sua professora para reaplicar, Vitoria foi aceita na Universidade da Pensilvânia, na Universidade de Utah e na Universidade de Nova York, optando pela UPenn.

Durante o período em que fez intercâmbio em Nova York, Vitoria pode vivenciar experiências culturais e artísticas | Foto: Arquivo pessoal

Durante o período em que fez intercâmbio em Nova York, Vitoria pode vivenciar experiências culturais e artísticas | Foto: Arquivo pessoal

A estudante conta que a formação recebida na FGV EMAp foi crucial para a conquista da vaga na Universidade da Pensilvânia. “Na Escola, tive a oportunidade de cursar disciplinas tanto de matemática quanto de ciência da computação, enquanto muitos programas focam apenas em uma dessas áreas. Esse enfoque multidisciplinar foi essencial para mim, pois minha pesquisa se concentra justamente na interseção entre esses campos”, destacou.

Com determinação e o apoio crucial da família e da Escola, Vitoria está pronta para enfrentar os novos desafios do doutorado na Universidade da Pensilvânia. “Meu objetivo é seguir como professora e pesquisadora. Portanto, meu foco é continuar estudando e permitir que as oportunidades se desenrolem naturalmente”, finalizou.

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